Quando decidi (e divulguei) que faria a graduação em Psicologia, muita gente ficou meio… assustada. Como assim alguém que já estava formado há mais de 20 anos em Direito, com uma carreira consolidada como professor, escritor de livros jurídicos, mestre em Direito e todo aquele “etc. e tal”, resolve "começar tudo de novo" aos 45 anos?
Por outro lado, vários amigos disseram que essa escolha “tinha a minha cara”. Outros comentaram que fazia todo sentido, especialmente com a sociedade tão adoecida como está. Com a minha experiência, disseram, seria como "começar lá na frente".
Concluí que todas essas percepções estavam certas. Nenhuma elimina a outra.
Mas vamos voltar ao início. Em 1990, no último ano do ensino médio, decidi que queria ser médico. Nada disso tinha surgido nos testes vocacionais – nem na minha lista de sonhos de infância –, mas mesmo assim, persegui essa ideia por três anos seguidos. O mais perto que cheguei? Suplente. Foi aí que aprendi o sabor amargo de reprovar. Talvez eu tivesse me tornado um bom psiquiatra se tivesse concluído aquilo que nem comecei.
Já que estava estudando tanto, meus pais sugeriram tentar um concurso público para a Receita Federal, nível médio. Entrei em um cursinho e, para minha surpresa, gostei das disciplinas de Direito. Isso me levou a arriscar um vestibular no meio de 1992, e deu certo: fiquei em 2º lugar no curso e entre os 20 melhores de todos os vestibulares da PUCRS daquele ano. Um adendo: meus pais são concursados aposentados, e meu pai é formado em Direito – embora quisesse ser médico quando veio do interior. Para se sustentar, teve que abrir mão e cursar Contábeis. Freud teria muito a dizer sobre isso, principalmente porque eu também cursei Contábeis de forma simultânea com Direito (sem concluir). Mas deixo essa análise para meu terapeuta…
Vamos dar um salto para 2006.
Comecei a lecionar em janeiro daquele ano, num preparatório para concursos. Foi ali que entendi que minha missão era ensinar. Isso se conectava com algo intrínseco em mim: o desejo de ajudar os outros. Talvez seja um traço de DNA, já que sempre vi meus pais ajudando quem precisasse – fosse família, amigos ou conhecidos. Quando comecei a lecionar na graduação e na pós-graduação, senti essa necessidade de ajudar ainda mais forte. Passei a estudar temas da essência humana, mergulhando em questões psicológicas e filosóficas.
Foi então que começaram a dizer que eu era uma mistura de "coach" e professor, porque abordava muito o lado motivacional e as questões emocionais dos meus alunos. Isso numa época em que coaching ainda era "mato". Fiz uma formação relâmpago na área e fui apresentado à Psicologia Positiva, pela qual me apaixonei. Daí em diante, fiz uma pós-graduação no tema e descobri referências que não apenas abriram minha cabeça, mas também o meu coração: Martin Seligman, Daniel Goleman, Carol S. Dweck (daí o "mindset"), Sonja Lyubomirsky, Tal Ben-Shahar, Shawn Achor, Charles Duhigg e até Napoleon Hill.
Mas, sabe quando ainda não é suficiente? Eu queria mais. Muito mais.
E foi assim que cheguei à Psicologia, graças aos meus alunos, leitores e, claro, a mim mesmo. Escolher essa nova jornada nunca foi algo tardio – foi exatamente no momento certo da minha vida. Agora, espero continuar ajudando e aprendendo. E claro, sempre ensinando o que descubro todos os dias.
Obrigado.
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