Estava subindo o elevador do prédio do meu terapeuta para mais uma sessão quando fui tomado por uma sensação estranha. Parecia que eu recém tinha saído do consultório e lembrava de uma conversa aleatória com ele já na porta do conjunto. Sabe quando você volta para um determinado lugar logo ao se dar conta que esqueceu o guarda-chuvas ou o carregador de celular?
Pensei comigo depois desta sensação: "o que fiz da minha semana"? Realmente, não vi passar o tempo e o pior, não tinha algo relevante para lembrar especificamente.
É normal que muitas vezes quando vamos para terapia não haja um evento que precise ser analisado ou reinterpretado. Ou como já ouvi: "não tive nenhum B.O. esta semana". Uma vez vi uma tira de quadrinhos que indicava um casal deitado no sofá assistindo TV tranquilamente e um deles olha para outro e pergunta: "vamos discutir?". O companheiro olha espantando e responde: "mas porque?". Então o outro sugere: "É porque preciso de algo para levar amanhã para terapia".
Mas não é este o ponto. Inclusive, o que me perturbou no elevador foi o que começou a terapia daquele dia. Nela pudemos nomear o que eu tinha passado como "Efeito Marmota". Para quem não lembra, é referência ao filme "Feitiço do Tempo" de 1993. Segundo a sinopse que peguei do site Adoro Cinema: Um repórter (Bill Murray) de televisão que faz previsões de meteorologia vai a uma pequena cidade fazer uma matéria especial sobre o celebrado "Dia da marmota". Pretendendo ir embora o mais rapidamente possível, ele inexplicavelmente fica preso no tempo, condenado a vivenciar para sempre os eventos daquele dia.
Então o Efeito Marmota é a sensação de estar preso ao tempo ao repetir uma rotina que a gente nem percebe que ontem parece ser hoje de novo. Tem muitas expressões que podem identificar este momento de percepção temporal. Veja se alguma delas você já ouviu ou disse.
"Mas já é segunda?" (poderia ser qualquer dia da semana)
"Nem vi o tempo passar..."
"Já terminou o mês?"
"De novo este boleto?'
"Natal? Mas ontem era a Páscoa!"
"O que fiz anteontem?"
"Parece que foi ontem"
"Como o tempo tá passando rápido"
Atualmente, a minha rotina pode ser resumida em estar "presa" na finalização de um novo livro (há meses), no atendimento dos meus pacientes e nos encontros casuais da semana, além da vida familiar doméstica.
Acredito que quando a nossa rotina está estabelecida e bem organizada o tempo fica em suspenso, como se a vida estivesse toda num único dia com poucas modificações. Se é ruim ou não, cabe muito mais à uma interpretação subjetiva, pois há quem goste de ter a sensação de controle e, por conseguinte, paz, e há quem prefira o caos.
Já vivi o caos em momentos diferentes da minha trajetória profissional, inclusive quando fui concursado (ao contrário do que as pessoas possam imaginar de um ambiente controlado), e agora passo por este momento de paz e não tenho do que reclamar, nem do Efeito Marmota.
A percepção do tempo é muito mais psicológico do que talvez a Física possa explicar. Quando ficamos mais velhos, a sensação é que o tempo se torna mais rápido, pois a contagem habitualmente se torna regressiva. "Quantos anos de vida ainda terei?".
Então o que nos resta a fazer? Viver bem.
Além de ter saúde, é viver com propósito. É acordar todos os dias, mesmo que eles se pareçam iguais, motivado pelas coisas que você acredita que façam sentido na sua vida, seja no seu trabalho ou profissão, seja junto àqueles que ama.
Fora disso, o Efeito Marmota é péssimo.
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